terça-feira, 1 de setembro de 2009

--' desiludida- -''




Se jogou na cama, procurando refletir. Refletir, refletir, refletir, estava cansada disso. O mundo exigia que refletisse, que chegasse a uma conclusão, que resolvesse os problemas. Ela não queria. Ela queria era se esconder, dormir durante meses, até que todo o cansaço que sentia passasse. Fernando Pessoa disse: todos os meus amigos têm sido campeões em tudo. A ela, parecia que ninguém se responsabiliza por seus atos. A ela, lhe parecia que era a única culpada do mundo. A ela, que sempre procurou fazer o correto, lhe é cobrada a decisão de agir certo e não agir ou de não agir certo e agir. A moral, a ética, já não é mais ser boa. Não, boa é muito fácil. Boa, correta, verdadeira. Tudo muito simples. Agora, o mundo era ambíguo, tríguo, políguo, todos os íguos.

Sacou da gaveta uma revista de palavras cruzadas, tentou não pensar. Era o que precisava. No entanto, de que adianta não pensar? Esquecer, fechar os olhos, ligar o som bem alto, desligar o telefone. Só adiava o que precisava ser feito. E o que seria feito? Eis a questão. Voltou para as cruzadinhas. Prefixo de "endoblase": movimento para dentro. O que era o movimento para dentro? Era a espiral de fora para dentro, que ia diminuindo, diminuindo, diminuindo, até desaparecer? Se ela se fechasse em si mesma, trancasse o quarto e passasse a vida fazendo palavras cruzadas, será que iria, aos poucos, desaparecer? Para onde vai o que não existe mais? A espiral continua fazendo círculos em algum lugar, em alguma realidade, mesmo que não seja a nossa?

A resposta era "endo". Decidiu parar com o jogo, com medo de virar uma espiral inexistente, em uma realidade invisível. Não que fosse uma má idéia ser invisível por um tempo, mas temia não voltar. Era o que mais a fazia sentir frágil: não tinha coragem de resolver e não tinha coragem nem de ser invisível. Parecia que era completamente vulnerável ao que vinha até ela, além de o que surgia de dentro dela. Nada ela comandava, tudo acontecia, como se estivesse em uma sala de cinema. Era refém da própria vida e nada podia fazer. Talvez a espiral fosse inevitável. Voltou às cruzadinhas.

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